Manual de sobrevivência à vontade de virar cantora de musical
após assistir Wicked, claro
Em 1900, L. Frank Baum lançou o fantasticalissimo livro “The Wonderful Wizard of Oz”, marcando o início de um universo literário que atravessaria séculos e me deixou obcecada desde pequena. Uma década depois, em 1910, o mundo viu a primeira adaptação cinematográfica, um curta-metragem mudo que trouxe a história para a tela.
Em 1939, o “O Mágico de Oz”, com Judy Garland como Dorothy, redefiniu a narrativa com músicas inesquecíveis e a introdução do Technicolor. Alguns, mais birutas até colocaram o disco do Pink Floyd (dark side of the moon) para tocar junto ao filme pois haviam boatos que dava match (realmente dá).
Décadas mais tarde, em 1975, a história recebeu uma nova perspectiva com o musical “The Wiz”, uma versão contemporânea que chegou ao cinema em 1978, estrelada por Diana Ross e Michael Jackson (não vi).
Saltando para 1995, Gregory Maguire trouxe uma visão sombria e adulta a Oz com o livro “Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West”. Essa obra serviu de base para o musical “Wicked”, que estreou em 2003 na Broadway e que assisti em 2006.
Por fim, em 2013, o filme “Oz: The Great and Powerful” explorou as origens do próprio Mágico de Oz, o piorzinho deles.
Corta para 2024 quando o filme Wicked estreiou nos cinemas e eu logicamente não demorei a assistir a fantabulosidade. Sou obcecada com o universo que Gregory criou como deu para ver.
A história é tudo que eu mais gosto quando se fala em releituras: Origin stories super originais mesmo, toques de mean girls, festas bombásticas de high school e revelações que apresentam uma nova forma de assistir ao original - ainda que eu não tenha comprado a ideia dos sapatos prateados, coisas de direitos autorais.
Por isso, há uma semana eu não paro de gritar junto a Adele Dazeem - aka Idina Menzel e a deliciosamente popular Kristin Chenoweth as músicas “Popular”, “Defying Gravity” e “For Good”.
Aconteceu isso com Lalaland também, admito. Fui tomada por uma súbita vontade de alcançar as notas altas e de dar a tremida do vibrato em qualquer frequência. Musicais tendem a me deixar meio tantã.
“Cause you and Iiiiiiiiiiiii defyyyyyyyinnnng graaavityyyyyy”.
De repente me pego ansiosa para enfrentar um trânsito, fechar bem as janelas do carro, aumentar o volume da música ao quase máximo e ter certeza ABSOLUTA que meu tom de voz é equiparável ao das cantoras. Estou desperdiçada aqui no Brasil. Poderia facilmente soltar a voz em um musical.
Tipo eu, o Winston.↑
Passam uns dias, o volume aumenta até o talo e eu adiciono um acompanhamento de braços e mãos que dançam junto ao meu falsete. Já começo a voar unliiiiiiteeeeed e por um segundo não bato o carro no meio fio.
Até que sou surpreendida por alguém que subitamente abaixa o volume do som do carro. De repente, enquanto alcanço meu agudo extremo no “everyone deserves a chance to flyyyyyy”, não é Idina cantando. Espera, esse falsete está sem o vibrato. A interpretação fica rasa, sem a emoção que deveria transbordar em cada nota. Há um leve (?) desafino, um tropeço no ritmo.
De repente recoloco as mãos no volante e volto a realidade. Murcho. As luzes da broadway se apagam na minha alma. O sinal abre. O trânsito volta a ficar pesado.
E assim ocorre o ciclo do vício em um musical, desde a apresentação até o trágico desfecho onde percebo que não sou uma estrela subutilizada.
Porém, a obsessão ainda não cessou por completo. Voltei a ler os livros para relembrar da história que é ainda mais fabulosa do que os efeitos especiais do filme. E me dá a bagagem que nenhum vibrato daria: a alma com que acredito na minha performance. O público precisa acreditar na música, e, sem isso, a performance vira um ensaio desconectado, sem magia nem impacto. Nesse ponto, minha performance dentro do carro está digna de um Tony. Minha filha e meu marido dizem o contrário, mas haters gonna hate.
Vamos ficar viciados juntos? Dá o play.
musical bom é o que dá vontade de sair cantando mesmo. mas eu tenho o bom senso de poupar todo mundo que está em volta. hahaha
Adoro o universo de Oz.
Quero muito ver.